TEXTO CENTRAL
“Porque,
todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte
do Senhor, até que
venha.” (1Co 11.26).
PRÁTICA DOS PG'S
A Ceia do Senhor, como uma ordenança, celebra a
comunhão do crente com o Senhor ressuscitado.
LEITURA
BÍBLICA
1 Coríntios
11.17-34
17 — Nisto, porém, que vou dizer-vos, não vos louvo, porquanto
vos ajuntais, não para melhor, senão para pior.
18 — Porque,
antes de tudo, ouço que, quando vos ajuntais na igreja, há entre vós
dissensões; e em parte o creio.
19 — E até importa
que haja entre vós
heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós.
20 — De
sorte que, quando vos ajuntais num lugar, não é para comera Ceia do Senhor.
21 — Porque,
comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e assim um tem fome, e outro
embriaga-se.
22 — Não
tendes, porventura, casas para comer e para beber? Ou desprezais a igreja de Deus
e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisso não vos
louvo.
23 — Porque
eu recebi do Senhor o que também vos
ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão;
24 — e,
tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós;
fazei isto em memória
de mim.
25 — Semelhantemente
também, depois de cear, tomou o
cálice, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue; fazei isto,
todas as vezes que beberdes, em memória
de mim.
26 — Porque,
todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte
do Senhor, até que
venha.
27 — Portanto,
qualquer que comer este pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será culpado
do corpo e do sangue do Senhor.
28 — Examine-se,
pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão, e beba deste cálice.
29 — Porque
o que come e bebe indignamente come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor.
30 — Por
causa disso, há entre vós muitos fracos e doentes e muitos que dormem.
31 — Porque,
se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados.
32 — Mas,
quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos
condenados com o mundo.
33 — Portanto,
meus irmãos, quando vos ajuntais para comer, esperai uns pelos outros.
34 — Mas, se algum tiver fome, coma em casa, para
que vos não ajunteis para condenação.
Quanto às demais coisas, ordená-las-ei quando for ter convosco.
INTRODUÇÃO
Assim como o Batismo em águas, a Ceia do Senhor
também é uma ordenança dada por Jesus à sua Igreja. Ao
longo da história,
a Igreja tem a Ceia do Senhor como uma das celebrações mais significativas.
Nesse sentido, o cristão pode contemplar a Ceia sob três perspectivas.
Primeira, um olhar para trás, quando contempla
Cristo entregando-se em sacrifício vicário
na cruz; segunda, um olhar para o presente, quando vê sua real condição diante
de Deus e como foi alcançado pela graça de Deus; terceira, um olhar para o
futuro, quando mantém sua
expectativa e esperança na Segunda Vinda de Cristo. Nesse sentido, a Ceia do
Senhor é uma cerimônia que deve ser
celebrada com reverência, júbilo e expectativa.
I. A
NATUREZA DA CEIA DO SENHOR NA TRADIÇÃO CRISTÃ
1. Na tradição romana. O romanismo compreende
de forma literal as expressões ditas por Jesus em referência aos elementos da
Ceia do Senhor: “isto é o meu
corpo” (Lc 22.19); “Este
cálice é [...] meu sangue” (Lc 22.20). Assim, segundo
esse entendimento, durante o cerimonial os elementos da Ceia se convertem no
corpo e no sangue de Cristo. Esse ensino é conhecido
como transubstanciação. Há pelo
menos dois problemas com essa interpretação. O primeiro de natureza lógica, pois quando Jesus celebrou a última Páscoa, Ele estava presente e, portanto, não
poderia estar fisicamente no pão e muito menos no cálice, já que fisicamente
ele se encontrava lá. Por outro lado, entender essas palavras de forma literal
e, não como metáforas, cria problemas de natureza exegética.
Jesus disse, por exemplo, que ele era a porta (Jo 10.9). Evidentemente, Ele não
se referia a uma porta literal.
2. Na tradição protestante. A tradição luterana diverge da católica quando nega que os elementos da Ceia, o pão
e o vinho, se tornem ou se convertam no corpo e no sangue de Cristo. Contudo,
afirma que o corpo físico de Jesus está presente no pão da Ceia. Esse
entendimento luterano é denominado
de consubstanciação. Como se vê,
Lutero não conseguiu se desvencilhar por completo da
tradição católica quando dá uma versão modificada da sua
antiga crença.
3. A posição pentecostal. A tradição
pentecostal entende que o pão e o vinho não se convertem fisicamente no corpo
de Jesus nem tampouco Jesus está presente fisicamente neles. Assim, o pão e o
vinho simbolizam o corpo e o sangue de Jesus. Contudo, Jesus se faz presente
espiritualmente nos símbolos da Ceia (Mt 18.20). Essa é a posição da maioria dos pentecostais. Também enfatizamos o aspecto memorial na celebração
da Ceia do Senhor. Nesse sentido, a Ceia do Senhor é para quem está em comunhão, e não para dar
comunhão. Esse entendimento se ajusta ao ensino do Novo Testamento sobre a Ceia
do Senhor.
II. O PROPÓSITO DA CEIA DO
SENHOR
1.
Celebrar a expiação de Cristo. Ao escrever sobre a Ceia do
Senhor, o apóstolo
Paulo destacou como propósito
dessa celebração “anunciar
a morte do Senhor” (1Co 11.26). Nesse caso, a Ceia do Senhor aponta para o Calvário. Ela celebra a vitória de Cristo na cruz sobre o pecado, a morte e
o Diabo (Hb 2.14,15). Por intermédio da
morte de Cristo na cruz, fomos justificados e reconciliados com Deus (2Co
5.21). Portanto, na Ceia do Senhor celebramos a vitória de Jesus na cruz, que também é a nossa
vitória
(Ap 12.11).
2. Proclamar a segunda vinda de Cristo. A Ceia
do Senhor proclama a sua segunda vinda (1Co 11.26). Logo, há um sentido escatológico na
celebração da Ceia do Senhor. Quando essa bendita esperança é perdida, a igreja se seculariza. Assim, na Ceia
do Senhor, a Igreja mantém um
olhar no passado, quando contempla a vitória de Jesus na cruz, mas também mantém
o seu olhar no futuro, esperando e ansiando por sua Segunda Vinda. Ao
contemplar o retorno de Cristo, a Igreja lembra que é peregrina nesta Terra e que a sua pátria não é aqui
(Fp 3.20,21).
3. Celebrar a comunhão cristã. Uma das razões
que levou o apóstolo
Paulo a escrever a sua Primeira Carta aos Coríntios estava relacionada à questão de divisões entre os irmãos daquela igreja
(1Co 1.11). Esse era um problema recorrente entre os coríntios e estava
presente também durante a celebração da
Ceia do Senhor. Paulo os reprova por isso (1Co 11.17). O clima fraterno e de
comunhão deixara de existir (At 2.42; 1Jo 1.7). Nesse sentido, alguns não
esperavam pelos outros para celebrarem a Ceia juntos (1Co 11.21). Quando há o espírito de divisão, litígios e intrigas entre os crentes, a celebração
da Ceia do Senhor perde todo o seu sentido.
III.
O MODO DE CELEBRAÇÃO DA CEIA DO SENHOR
1. O que é participar
“indignamente”? Concernente à
celebração da
Ceia do Senhor, Paulo advertiu sobre o perigo de participar da Ceia
indignamente (1Co 11.27). O termo português “indignamente” é a
tradução do advérbio
grego anaxiós.
Um advérbio indica a maneira ou
modo como se faz uma coisa enquanto um adjetivo indica o seu estado. Nesse
sentido, esse advérbio modifica
o verbo comer e está relacionado ao modo ou maneira como os coríntios estavam
comendo a Ceia do Senhor — de
maneira desordenada, quando não esperavam um pelos outros; de maneira
indisciplinada, quando comiam mais do que os outros e de maneira irreverente
quando se embriagavam (1Co 11.18,21,22).
2. Uma celebração reverente. Se em lugar de um
advérbio, que indica modo ou
maneira, Paulo tivesse usado um adjetivo, que indica estado, qualidade ou
natureza, então ninguém poderia participar da Ceia, pelo fato de que
ninguém é digno (1Co 11.27). Como mostramos, não é esse o caso. É verdade que não participamos da
Ceia do Senhor porque somos dignos, mas pela graça de Deus. Contudo, ninguém seja tentado em pensar que, pelo fato de ser
um pecador alcançado pela graça, pode participar da Ceia vivendo
deliberadamente em pecado. Se a simples maneira irreverente de celebrar a Ceia
atrai o juízo divino, o que dizer então de quem participa com pecados não
confessados? Pecado não confessado atrai o juízo divino.
3. Celebração
festiva. A Ceia do Senhor celebra a morte e ressurreição de Jesus e não o seu
funeral. A Ceia celebra o Cristo que morreu, mas que ressuscitou (1Co 15.1-4).
Deve, portanto, ser uma celebração reverente, contudo, festiva (1Co 5.7-8).
Nosso Redentor vive e, por isso, devemos demonstrar isso na Celebração da Ceia
do Senhor. Nela, portanto, deve haver um ambiente de reverência e, ao mesmo
tempo, de abundante alegria.
CONCLUSÃO
Nesta lição, sob diferentes perspectivas, vimos
alguns aspectos que revelam o sentido e propósito da Ceia do Senhor. Não é um sacramento, que de forma mágica concede graça aos que dela participam
nem tampouco uma vacina para dar comunhão a quem não tem. Na verdade, o direito
de celebrar essa importante ordenança é o
resultado da graça que foi concedida a cada crente. É necessário ter esse discernimento quando se participa desse rito
cristão. Trata, pois, de um ato que não pode ser celebrado de
qualquer jeito ou maneira, nem tampouco por quem vive deliberadamente em
pecado.